quarta-feira, novembro 21, 2007

Cinderela às avessas

Ela morava em apartamento e de vez em quando sentia-se só. Sentia falta de carinho, de atenção, de um ombro amigo, de um porto seguro. Ele vivia isolado, mas ambos se conheciam. Algum tempo depois quis o destino que eles vivessem juntos. Ela, com medo da solidão freqüente, concordou e viu nele, pobre rapaz, perspectivas de ser mais do que um amigo, de se tornar alguém. Ele, por sua vez, viu nela a pessoa que poderia ser seu baluarte, sua força, nas horas alegres e nas horas ruins. Era um desafio para ambos. O tempo passou, estudaram muito, trabalharam mais ainda. Como ela terminou a faculdade antes dele, passou a estudar com ele, fazer seus resumos, rever as matérias, ajudar nos trabalhos, nas correções das provas, para que ele fosse o melhor. Ela sabia que ele merecia isso. Ela ajudou-o no corte de cabelo, nas unhas, nos sapatos, no perfume ideal e nas roupas. Ela se orgulhava do que ele estava se tornando com a ajuda dela. Pareciam felizes.O tempo passou, ele foi reconhecido, teve uma promoção fora da cidade onde moravam e foram os dois cheios de planos para uma nova vida num novo lugar. Perfeição? Acaba a história aqui? Não.Ele tomava rumo ignorado, deixava-a sozinha o tempo todo, inclusive nos finais de semana. Voltava tarde, trabalhava sem parar – como que querendo reverter o tempo perdido. Ela isolou-se também. E viviam “felizes” numa casa grande onde só a usavam para dormir. Passou-se algum tempo e a indiferença transformou-se em revolta. Ela queria que ele lhe desse mais atenção. Ele era o queridinho de todos, o senhor perfeito, o melhor em tudo. Mas com ela...Não havia música, não havia cinema, não havia romantismo, não havia sequer uma briguinha reles para ter motivo para a volta... tudo era apenas uma grande e insana indiferença.Culpa dela? Culpa dele? Como saber... Histórias de amor são assim, às vezes. O sapo não virou príncipe e a princesa não viveu feliz para sempre. Eles se separaram alguns anos depois e ela viu-se de novo sozinha, só que em outro lugar agora, com outras pessoas, num mundo que não era o seu. Ele, por sua vez, aproveitava cada momento seu, como se tivesse esperado por isso por toda a vida, só que agora com mais poder, estudado, admirado por todos, ganhando muito bem, poderia ser dono do seu nariz e ostentar tudo o que sempre quis. Pena dela? Não havia motivo para tal. Mas ela sentiu-se usada todo esse tempo. Ele conseguiu o que queria e ela está procurando ainda seu porto seguro mais do que nunca, porque ele nem sabe as privações que ela passa por ter se anulado em prol dele.Moral da história? Toda mulher tem sua fase de Amélia e todo homem tem sua etapa de cafajeste. Não esperar demais pode ser uma solução, mas principalmente, não espere consideração e nem gratidão porque o amor acabou e foi ela quem virou uma rã. Parece ficção, não parece?
— Regina Bukvich (Santa Cruz do Rio Pardo-SP)

quinta-feira, agosto 23, 2007

Atraso e partilha

Ainda recente escutei uma frase que me martelou: "o Brasil não quebra porque é rico demais!" Deve ser verdade.
Mas depois revi um texto lido numa assembléia da ONU para meio ambiente, lido por uma canadense de 13 anos.
Num trecho, ela se pergunta, e transmite a dúvida aos ouvintes, como ela que tinha tudo poderia se sentir sobre haver no mundo crianças que moravam na rua, sem sequer amor e carinho, e que sonhavam em ter dinheiro para tirar as crianças das ruas, matar a fome, e dar amor e carinho?
Como quem tem tudo nega a outros que nem nada têm, educam filhos mas não agem como querem ensinar, sobre cuidar do mundo para as gerações futuras, sem sequer incluir as próprias gerações futuras? Era um apelo, mas era um alerta também.
Muitas vezes está distante de nós esse mundo miserável, que uma jovem canadense constatou nas ruas do Rio de Janeiro, onde se realizava a assembléia. Havia um sentimento tão adulto no texto, quanto verdade na emoção expressa da oradora.
O Brasil é rico, me dizia um concidadão meu, mas a riqueza é partilhada entre poucos no meio de tantos. Sabemos disso. Parece que é isso que segura a possibilidade da evolução do Brasil à era da informática, como com a nota fiscal eletrônica e outros controles digitais e em rede, que ainda é longe da realidade do Brasil grande, e muito interioranos somos...
Ao som do julgamento do mensalão, ouvimos teses sobre fraudes várias, que tiram da riqueza dos que pagam impostos a partilha justa que seria devida aos que vivem à mingüa do que o imposto deveria repartir.
Alguns, como porcos, se chafurdam nas generosas migalhas que a obscuridade criminosa da burocracia lança-lhes, como paga pelas porcarias feitas, como obras, ambulâncias, máquinas... e tudo superfaturado, pelo descontrole que há dos recursos que há, e são muitos.
E fazem dessa generosa porção, como donos de pocilgas, lavagem, com os "recursos" desperdiçados que deveriam ter servido ao futuro. Repartido, em milhões, bilhões, entre bandos de ladrões, não mais que tais, ainda que queiram apenas posar como perdoáveis perpetradores de travessuras políticas permissíveis, num jogo de poder e entre poderes.
O Brasil, é rico sim.
Mas essa generosa e farta sobra a ser "entesourada" deveria nos tornar mais responsáveis com a verdadeira façanha de fazer imediatamente um expurgo da classe política, de todo tipo de espertalhão, que quer se apoderar de "alguns" milhões que podem passar incólumes nos balanços milionários, muitos deles favorecidos pelos governos, que envolvem licitações e serviços públicos, usinas, loteamentos de cargos e terras griladas, bois vivos e "bois nos ares".
São quadrilhas sim, e elas ajudam a banalizar o valor que não tem a vida, como a de 200 mortos num avião, des"controlado" nesse ninho de guacho que chamam caos aéreo, mas se emaranha em gabinetes e documentos que não dizem nada no duro chão da realidade de quem sofre a dor. Ou outros 25 numa cadeia, sob a tutela de um Estado que deveria impedir que bandidos e "milicianos" (robinwoodiana versão para os bandos do tráfico que suprem a orgia brasileira), se armassem, especialmente dentro das cadeias sabotadas pelos que banalizam a vida em todas as falcatruas. E a chave para controlar isso está com os recursos de tecnologia que dispomos, mas não implementamos verdadeiramente, da era digital. Não adianta trancar a cadeia e passar a chave na porta, se não se sabe o que fazer com o quê ou quem se mantém lá dentro, com o respeito que merece o cidadão, em qüalquer classe social.
Há que se cuidar dos bandidos, os sociais e políticos.
Com os superávits de arrecadação, pode-se diminuir a carga de tributos sim. Se fecharem a torneira da esparrela administrativa que criamos para o Brasil.
É melhor talvez largar do pé dos que contribuem com trabalho, que é o que nos sustenta ainda sermos viáveis, antes que a orgia se torne uma terrível e temida anarquia, e conte em suas hordas com quem não quiser mais contribuir para esse "Estado" de "coisas", do outro lado.
Orgia que está a ser contemplada placidamente por um sistema que se orgulha de ser superavitário em arrecadação há 9 anos, e prova (na gestão e no seu planejamento) o descaso à vida perdida, seja num avião, rua, estrada, hospital ou cadeia.
Senão (ou melhor, enfim...), o objeto a que deveria servir o Estado (o homem e o bem comum), continuará, ao contrário, a servir à usura do erário público como contribuintes (para os homens), e antro de quadrilheiros, no caso dos "bens comuns" e sua gestão, repartida generosa entre os amigos do poder.
Mas não lhes interessa a nossa condição de cidadãos, pais de família, maridos e mulheres, filhos. Brasileiros.
Apenas, somos contribuintes.
E tão ausentes...

terça-feira, julho 31, 2007

Para queimar calorias...

Washington, 31 jul (EFE).- Apesar do povo acreditar que as razões para manter relações sexuais são poucas e simples, um estudo da Universidade do Texas encontrou 237 motivos que tornam a escolha mais complexa.O estudo será publicado na revista "Archives of Sexual Behavior", e já pode ser acessado no site da publicação.As razões mais óbvias incluem 'para ter filhos', 'por prazer' ou para 'aliviar a tensão sexual', indicaram os autores do estudo, Cindy Meston e David Buss, do Departamento de Psicologia da Universidade do Texas.No entanto, "várias perspectivas teóricas sugerem que os motivos para iniciar uma relação sexual podem ser mais numerosos e complexos", acrescenta o artigo.Os pesquisadores entrevistaram 1.549 participantes sobre suas razões para manter relações sexuais, incluídos fatores de redução do estresse, prazer, desejo físico ou busca de experiências.Também perguntaram sobre os objetivos dos participantes, incluindo fatores como a obtenção de recursos ou progresso social, revanche e mero utilitarismo.As respostas foram variadas, e totalizaram 237 razões para manter relações sexuais.Entre elas constam "experimentar prazer físico", "estar mais próximo de Deus", "fazer com que outra pessoa se sentisse bem consigo mesma" e "se vingar de traição".Também houve respostas como "estava bêbado", "para queimar calorias", "para pagar um favor", "para manter-me quente", "mudar o tema de conversa", "porque me pareceu um bom exercício" ou "porque alguém me desafiou". (EFE, Washington, 31 jul 2007)

sexta-feira, julho 27, 2007

Eu quero ser presidente...

Eu queria ser presidente.
Não acho que enfim, ele tenha que se condoer mais que nenhum outro ser humano.
Há uma coisa na lei que deveria ser mudada, para eu ser presidente:
- o presidente não precisaria, depois de ser eleito, ter um partido político para ter direito a concorrer à reeleição.
Teria uma verba X para fazer uma campanha à reeleição independente, como chefe executivo e sem partido, e pronto.
Não sei se esse é o modelo de alguma republiqueta, mas acho que seria mais ou menos um sistema meio getulista, peronista, ou populista, etcétera e tal.
Porém não creio que seria pior do que o que hoje temos.
Eu quero ser presidente,
e queria poder tentar me apegar ao cargo,
não ao poder,
realmente me condoendo mais com a nação
que em mim acreditasse.
Não que eu creia que nosso presidente não se condôa, sinceramente.
Ainda devem haver valores e moral que lho façam sofrer mais que qüalquer um
que não seja muito próximo,
a qüalquer vida que se perca,
ou muito além de sofrimentos
a que muitas vidas passam e se imolam
qüase sempre sem querer.
Não há tôlo que desconheça que também já errou,
e esses valores morais que nos fazem julgar erros,
sempre dizem respeito ao que queremos para o futuro,
não ao que levou aos erros imorais que tenhamos cometido,
ou deixado que cometessem.
Eu queria ser presidente,
e já que é "muito" querer ser presidente,
eu esbanjo em sonhos em dizer que queria ser presidente
e queria ser também o Gilberto Gil.
Então, isso não deve dar prá ser por essa vida agora.
A menos que um gênio numa lâmpada me conceda então três pedidos,
e eu ainda queria voltar a ser eu e ver se dá certo,
torcendo do lado dos anônimos que não têm cargo ou poder.
Gilberto Gil tem um nome sonoro.
É brasileiro típico:
meio acriôlado (como diria um que assim se dizia dos afro-descendentes atuais),
educado, polido, visceralmente ligado ao chão do Brasil,
embora virtuosamente espalhado pelo mundo inteiro, e respeitado.
É inteligente, coisa que temos de mais típica
por todas as culturas que amalgamamos
e esprememos
numa cor morena,
preta,
parda
ou branca, encantadora e apaixonada que soemos ser,
como sói ser também a voz dele,
como afinados e integrados aos tempos modernos da humanidade,
esses em que não se pode mais dizer que não se sabia,
já que todos tudo sabemos,
governistas e oposicionistas,
mas todos, parecem,
querendo apenas "levar uma vantagenzinha".
Gilberto Gil não me parece levar vantagem de ser presidente,
e por isso eu queria ser ele,
para achar que é vantagem,
ser presidente,
sair do partido que me elegeu
e não ser nem governista nem oposicionista,
mas presidente.
E se gostar do fardo da "ré-pública", que possa a ele se recandidatar.
E como bom presidente, só poder ser candidato novamente se um breve plebiscito,
em meio a tão eficiente justiça eleitoral e seu aparato escrutinatório, dizem,
avalizasse com mais de 51% de aprovação pública, votada e computada.
Nada de vaias ou aplausos,
que ai o Presidente Gil,
do Brasil,
seria reeleito em shows, não plebiscitos.
Mas antes disso, ele teria que querer ser presidente,
já que o gênio ainda não tem,
que me torne ele eu e dele eu,
além de me eleger sem passar por partido.
Mas se eu encontrar a lâmpada ou uma garrafa...
Pelo menos, com trânsito ai pelas casas,
tanto do congresso qüanto as nossas,
palácios e palcos do mundo inteiro,
Gil é tão público e tão coerente em seus discursos e vida,
que é sempre mais que ministro,
além de poeta e cantor.
Que se mostra um pensador,
um antropólogo,
um sociólogo,
um defensor de causas por outros dadas perdidas,
e alguém a quem sabemos a capacidade intelectual e a disposição.
Bom, a menos que um super-presidente,
depois de ter combatido o crime, a violência, a corrupção,
venha nos salvar.
Dizia Gil de nossa esperança que um dia um "super-homem venha nos restituir a glória..."
embora dito já por Bertoldt Brecht que é
"infeliz a nação que não tem heróis, mas mais infeliz é a nação que precisa de heróis".
De Brecht a Gil, é preferível hoje que lembremos quantas "frases" nos fizeram,
entre ditos e feitos, que ainda nos faz esperar um salvador (até novelas fizeram!),
mas talvez estejam entre nossos sonhadores
mais salvadores que detratores
do trato feito com a ré-pública.

quinta-feira, julho 12, 2007

Sobre valores...


Os ingleses, com sua conhecida necessidade de descobrir novas fronteiras, num exercício de freakonomics (que vem a ser uma mistura de estatística com economia e alguns outros componentes ocultos ou para incautos), chegaram ao valor da vida humana: em sua melhor condição, o de companheira, vale US$220 mil, no caso de danos morais causados pela morte da amada. Mas começamos a partir de US$5 mil, como crianças, se européias ou americanas. Um mero pai, personagem aparentemente tembém cada vez menos presente na criação de filhos, vale ai uns US$28 mil, se em bom estado. O preço de um compacto com air bag (pais podem ter barrigas de chope, mas a função é distinta). Um filho especial no EUA pode valer US$18 milhões, mas ai depende do pai de U$$28 mil ter US$100 mil para arranjar um bom advogado.Mas sem mais ironizar, imaginemos que uma companheira (um companheiro-pai, lembrem-se, por R$56 mil mal agüenta valer uma safena), valendo R$440 mil, em alguns casos pode precisar de tratamento médico que custa mais que isso, e estudos desse tipo, embora feitos com intuito de estabelecer valores de referência para tribunais, podem desvirtuar os interesses naturais, permitindo que sejam feitos seguros em que os seguradores (planos médicos inclusive) venham a optar pelo mórbido conceito de que é preferível pagar o valor máximo jurídico que arcar com custos que extrapolam esse valor, caso alguém venha a se sentir lesado pelo descaso pela vida humana, que pode ser (ex)posta em dinheiro. Gado.Uma criança cujo tratamento ultrapasse R$10 mil, talvez seja melhor deixar que a natureza se encarregue...Mórbido pensar que se precise estabelecer esses valores, e cruel pensar que um adulto pobre, que ganhe 2 salários mínimos, vai gerar em 30 anos de trabalho para a sociedade uma riqueza de R$550 mil apenas em encargos sociais e juros sobre o capital desse tributo que serve ao governo como moeda de auto-financiamento, sem falar que vai gastar o salário em comida e roupa que vai gerar outros tributos ao estado. Ou seja, um adulto acaba por pagar ao trabalhar mais do que vale por ser excluído. Deveria ser razão bastante para o estado preservar o cidadão desses acintes...Porque ai chego a outras questões: o ministro japonês que acha que explodir bombas atômicas permitiu um mundo menos ameaçado, e está certo, pelos conceitos também de freakonomics, acaba por um lado de colocar os americanos no papel que eles gostam, de mocinhos. Mas não sabemos, mesmo agora tendo a idéia de qüanto vale uma vida, dizer dos males que isso causou ao planeta também (embora não mais valioso que os 200 mil mortos), aos buracos que hoje causticamente deixam fluir os raios para os qüais nossa nave-terra não foi projetada...