Ela morava em apartamento e de vez em quando sentia-se só. Sentia falta de carinho, de atenção, de um ombro amigo, de um porto seguro. Ele vivia isolado, mas ambos se conheciam. Algum tempo depois quis o destino que eles vivessem juntos. Ela, com medo da solidão freqüente, concordou e viu nele, pobre rapaz, perspectivas de ser mais do que um amigo, de se tornar alguém. Ele, por sua vez, viu nela a pessoa que poderia ser seu baluarte, sua força, nas horas alegres e nas horas ruins. Era um desafio para ambos. O tempo passou, estudaram muito, trabalharam mais ainda. Como ela terminou a faculdade antes dele, passou a estudar com ele, fazer seus resumos, rever as matérias, ajudar nos trabalhos, nas correções das provas, para que ele fosse o melhor. Ela sabia que ele merecia isso. Ela ajudou-o no corte de cabelo, nas unhas, nos sapatos, no perfume ideal e nas roupas. Ela se orgulhava do que ele estava se tornando com a ajuda dela. Pareciam felizes.O tempo passou, ele foi reconhecido, teve uma promoção fora da cidade onde moravam e foram os dois cheios de planos para uma nova vida num novo lugar. Perfeição? Acaba a história aqui? Não.Ele tomava rumo ignorado, deixava-a sozinha o tempo todo, inclusive nos finais de semana. Voltava tarde, trabalhava sem parar – como que querendo reverter o tempo perdido. Ela isolou-se também. E viviam “felizes” numa casa grande onde só a usavam para dormir. Passou-se algum tempo e a indiferença transformou-se em revolta. Ela queria que ele lhe desse mais atenção. Ele era o queridinho de todos, o senhor perfeito, o melhor em tudo. Mas com ela...Não havia música, não havia cinema, não havia romantismo, não havia sequer uma briguinha reles para ter motivo para a volta... tudo era apenas uma grande e insana indiferença.Culpa dela? Culpa dele? Como saber... Histórias de amor são assim, às vezes. O sapo não virou príncipe e a princesa não viveu feliz para sempre. Eles se separaram alguns anos depois e ela viu-se de novo sozinha, só que em outro lugar agora, com outras pessoas, num mundo que não era o seu. Ele, por sua vez, aproveitava cada momento seu, como se tivesse esperado por isso por toda a vida, só que agora com mais poder, estudado, admirado por todos, ganhando muito bem, poderia ser dono do seu nariz e ostentar tudo o que sempre quis. Pena dela? Não havia motivo para tal. Mas ela sentiu-se usada todo esse tempo. Ele conseguiu o que queria e ela está procurando ainda seu porto seguro mais do que nunca, porque ele nem sabe as privações que ela passa por ter se anulado em prol dele.Moral da história? Toda mulher tem sua fase de Amélia e todo homem tem sua etapa de cafajeste. Não esperar demais pode ser uma solução, mas principalmente, não espere consideração e nem gratidão porque o amor acabou e foi ela quem virou uma rã. Parece ficção, não parece?
— Regina Bukvich (Santa Cruz do Rio Pardo-SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário