Ainda recente escutei uma frase que me martelou: "o Brasil não quebra porque é rico demais!" Deve ser verdade.
Mas depois revi um texto lido numa assembléia da ONU para meio ambiente, lido por uma canadense de 13 anos.
Num trecho, ela se pergunta, e transmite a dúvida aos ouvintes, como ela que tinha tudo poderia se sentir sobre haver no mundo crianças que moravam na rua, sem sequer amor e carinho, e que sonhavam em ter dinheiro para tirar as crianças das ruas, matar a fome, e dar amor e carinho?
Como quem tem tudo nega a outros que nem nada têm, educam filhos mas não agem como querem ensinar, sobre cuidar do mundo para as gerações futuras, sem sequer incluir as próprias gerações futuras? Era um apelo, mas era um alerta também.
Muitas vezes está distante de nós esse mundo miserável, que uma jovem canadense constatou nas ruas do Rio de Janeiro, onde se realizava a assembléia. Havia um sentimento tão adulto no texto, quanto verdade na emoção expressa da oradora.
O Brasil é rico, me dizia um concidadão meu, mas a riqueza é partilhada entre poucos no meio de tantos. Sabemos disso. Parece que é isso que segura a possibilidade da evolução do Brasil à era da informática, como com a nota fiscal eletrônica e outros controles digitais e em rede, que ainda é longe da realidade do Brasil grande, e muito interioranos somos...
Ao som do julgamento do mensalão, ouvimos teses sobre fraudes várias, que tiram da riqueza dos que pagam impostos a partilha justa que seria devida aos que vivem à mingüa do que o imposto deveria repartir.
Alguns, como porcos, se chafurdam nas generosas migalhas que a obscuridade criminosa da burocracia lança-lhes, como paga pelas porcarias feitas, como obras, ambulâncias, máquinas... e tudo superfaturado, pelo descontrole que há dos recursos que há, e são muitos.
E fazem dessa generosa porção, como donos de pocilgas, lavagem, com os "recursos" desperdiçados que deveriam ter servido ao futuro. Repartido, em milhões, bilhões, entre bandos de ladrões, não mais que tais, ainda que queiram apenas posar como perdoáveis perpetradores de travessuras políticas permissíveis, num jogo de poder e entre poderes.
O Brasil, é rico sim.
Mas essa generosa e farta sobra a ser "entesourada" deveria nos tornar mais responsáveis com a verdadeira façanha de fazer imediatamente um expurgo da classe política, de todo tipo de espertalhão, que quer se apoderar de "alguns" milhões que podem passar incólumes nos balanços milionários, muitos deles favorecidos pelos governos, que envolvem licitações e serviços públicos, usinas, loteamentos de cargos e terras griladas, bois vivos e "bois nos ares".
São quadrilhas sim, e elas ajudam a banalizar o valor que não tem a vida, como a de 200 mortos num avião, des"controlado" nesse ninho de guacho que chamam caos aéreo, mas se emaranha em gabinetes e documentos que não dizem nada no duro chão da realidade de quem sofre a dor. Ou outros 25 numa cadeia, sob a tutela de um Estado que deveria impedir que bandidos e "milicianos" (robinwoodiana versão para os bandos do tráfico que suprem a orgia brasileira), se armassem, especialmente dentro das cadeias sabotadas pelos que banalizam a vida em todas as falcatruas. E a chave para controlar isso está com os recursos de tecnologia que dispomos, mas não implementamos verdadeiramente, da era digital. Não adianta trancar a cadeia e passar a chave na porta, se não se sabe o que fazer com o quê ou quem se mantém lá dentro, com o respeito que merece o cidadão, em qüalquer classe social.
Há que se cuidar dos bandidos, os sociais e políticos.
Com os superávits de arrecadação, pode-se diminuir a carga de tributos sim. Se fecharem a torneira da esparrela administrativa que criamos para o Brasil.
É melhor talvez largar do pé dos que contribuem com trabalho, que é o que nos sustenta ainda sermos viáveis, antes que a orgia se torne uma terrível e temida anarquia, e conte em suas hordas com quem não quiser mais contribuir para esse "Estado" de "coisas", do outro lado.
Orgia que está a ser contemplada placidamente por um sistema que se orgulha de ser superavitário em arrecadação há 9 anos, e prova (na gestão e no seu planejamento) o descaso à vida perdida, seja num avião, rua, estrada, hospital ou cadeia.
Senão (ou melhor, enfim...), o objeto a que deveria servir o Estado (o homem e o bem comum), continuará, ao contrário, a servir à usura do erário público como contribuintes (para os homens), e antro de quadrilheiros, no caso dos "bens comuns" e sua gestão, repartida generosa entre os amigos do poder.
Mas não lhes interessa a nossa condição de cidadãos, pais de família, maridos e mulheres, filhos. Brasileiros.
Apenas, somos contribuintes.
E tão ausentes...
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