sábado, junho 26, 2004

Por quê...

De quem é o barroco?

Um artigo do economista Cláudio de Moura Castro, na seção Ponto de Vista da revista Veja de 11 de Fevereiro de 2004 (pág.20), relata a "descoberta" por paulistas e cariocas, segundo ele, do tesouro barroco das obras sacras do período colonial. Cita inclusive o fato quê, recentemente, uma cômoda antiga, dessas de sacristias, foi trocada por um apartamento de 4 quartos. Relata ele que muitas obras foram comercializadas por padres, sacristãos e zeladores, tendo "escapado" do destino ingrato de servirem, essas obras barrocas, até de lenha, também segundo ele, fato comum há alguns anos. Cita ainda o fato de uma pessoa ter reconhecido, num leilão, que 3 anjos barrocos teriam pertencido, e sido furtados, a uma igreja de Santa Luzia, MG. Termina o artigo protestando que "seria lastimável o alastramento de um populismo mesquinho que quer transformar os descobridores do barroco em gatunos", citando antes que "se não fossem a cultura e visão de alguns paulistas e cariocas, e se não fossem as vendas dos padres, zeladores e sacristãos, esse patrimônio teria ardido em fogões ou alimentado cupins."
Estamos, ai, diante de uma questão que, me perdoe o articulista de Veja, é bem antiga. Na década de 60, em meus idos de primário, já aprendia na escola sobre o tesouro barroco das igrejas de Minas. Há mais de 30 anos, então, se sabia que tal patrimônio pertencia à história do Brasil, e, ou deveria estar onde devia, nas igrejas, ou em museus, e ser admirado e estudado por todos. Lembro-me inclusive de que me incomodava esse nome, "barroco", por lembrar barro, e conseqüentemente, coisas da terra.
Enfim, o artigo parece tender a justificar o que padres e sacristãos, mesmo tendo vendido as obras sacras para arrecadar fundos para construir novas igrejas ou obras (sociais ou particulares...), estavam certos, e são, enfim, protetores do patrimônio histórico nacional. Ainda não me convenci disso.
Caso raro é o de uma colecionadora de Minas, que fez um museu de oratórios, e os doou ao Estado de Minas Gerais. Aliás, acho que não é só um caso raro, mas único. E Frei Betto, em um texto dissecador sobre a atitude dessa colecionadora, escreveu: "Lástima que tais exemplos sejam raros. Mas suficientes para provar que nem toda pessoa rica vive centrada no próprio umbigo, refém da indigência poética de quem se delicia com a pobre rima entre contabilidade e felicidade."

24/2/2004