sexta-feira, outubro 28, 2005

Silenciosa Estima

Não há cobrança...

Por incrível que pareça, embora o leitor (?) não mereça, ainda gosto de escrever.

E não há cobrança. Daquelas sem papel timbrado de telefônicas, bancos, serasas, spcs...

Parece a morte em vida.

Deveria haver alguém, movido por um mínimo de curiosidade, que perguntasse: e aquele "cronista"? Morreu?!

Nada. Nada se cobra, porquê nada faz realmente falta, a não ser o ar que respiramos e o pão que o diabo amassa com o rabo vermelho, em ponta de flecha e brasa.

Faz falta a água, a pinga, a cerveja, a morena faceira, a loura enfoguetada, a gorda envergonhada, a magra afetada, o careca reluzente e o cabeludo bezuntado. Faz falta.

Faz falta o toque no celular, ainda que por engano, como se prova viva fosse de que estamos na agenda de alguém, ainda que esquecido(a). Faz falta. Faz falta a grana na carteira, o cartão não estourado, o fígado atrasado, e o sorriso, carinhoso e de uma amizada etérea, de um garçom que sempre nos servia, de tudo que se sorvia.

Faz falta a estima, umas baixas, outras altas, a estima. Essa estranha companheira, que senta-se à mesa calada e sái muda, que não cobra nem reclama, apenas se mostra: "eu sou sua estima, prazer... Vim beber um pouco com você, vim deitar-me ao seu lado, vou acordar sonolenta ou alvissareira amanhã, e vamos fazer o mundo acontecer. Vamos pintar de azul o céu, aquecer com um calor o dia, abrir os semáforos de seus caminhos, atravessar velhinhas nas faixas de pedestres, convencer com um sorriso de mona-lisa o pedinte, de que não temos moedinha... não assim tão cedo. E depois, me afastarei de você, e deixarei você lado a lado com o vazio que lhe circunda, e não estarei presente, nem alta, nem baixa, só nula, durante todo o seu dia. Lhe deixarei esperar as cobranças do que quer que espere ser cobrado, de suas falhas e de suas omissões, e ao final do dia, lhe encontrarei à saída do trabalho, ou da última visita a uma entrevista de emprego, e lhe lembrarei de tantos bares em que poderemos ir juntos...", silenciosa estima, silencioso encontro. E nem sei com que olhos, se me sobrerem olhos, lhe olharei...

Um comentário:

Anônimo disse...
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