sexta-feira, maio 28, 2004

Reminiscências de Março, em fins de Maio...

Quando alguém diz que está bem, logo alguém retruca: também, assim até eu...
Sempre alguém tem a dizer algo sobre um talento, sobre um esforço, sobre um plano, das pessoas que estão fazendo alguma coisa, seja lá o que for.
E lamentam que não têm a mesma sorte.
Enquanto dirigia e pensava nisso, pelo párabrisa, vejo um céu degradê num azul feliz e luzidio dum entardecer passando pela Santos Dumont em direção à casa da mamãe. Inspiro a vida exalada que me circunda a existência nesse momento, naquele, como agora, e há algum tempo. Permito-me curtir uma sensação que venho sentindo dia a dia mais na cidade: ela parece mais fluída, mais animada. A renovação das férias, talvez. Um curso novo para o alegre rapazinho com uniforme e pastinha de office-boy, colegas novos e interessantes para as estridentes mocinhas em uniformes totalmente em desconforme. Uma conta atrasada, para aquele rapaz de cenho cerrado? Ou esquecera algo que o preocupava? Um olhar de `achei`, e uma discreta ajeitada na roupa e no porte, da senhora, diante da vitrine espelhada, pouco antes de entrar na loja de roupas. Com certeza, ela pediria um número a menos. E se comprometeria a um regimezinho até a ocasião. Uma caixinha arrumada e desarrumada 300 vezes pelo camelô, enquanto apregoa suas mercadorias. E o velhinho que de braços cruzados olha e confere, com o pescoço se voltando ao trânsito da rua transversal, se o sinal está aberto ou fechado.
Permito-me curtir a existência nesses momentos, enquanto imagino as vidas de cada uma dessas pessoas, colando nelas imagens que se fixaram em minha memória como chicletes em pátio de escola.
Em muitas delas, vejo traços do que me disseram que seria felicidade.
Estão ali, com seus problemas e suas vidas, sendo observadas por mim e por todos que queiram, quando saimos do egoismo de nossas existências, dizem.
Pelo canto do olho, percebo olhares que me chegam do carro ao lado, em minha direção. Eu também estou sendo observado... Vacilo um pouco, mas continuo cantando a música que acompanhava pelo rádio do carro. É uma grande responsabilidade você parecer feliz para alguém. Tem gente que não entende o que é isso, ou percebe que é tudo uma máscara de felicidade sobre mais um semblante sofrido.

Um comentário:

Claw disse...

Isso é de Março, e esse meu teclado tem me dado dores de cabeça, com seu desentendimento com o Blogger. E eu só quero ver se há comentários, e se vc ler esse, comente comigo...