domingo, abril 11, 2004

Recuerdos de (Dói) Paracáiy

Gosto de remexer guardados...
Fotos, escritos, pedaços de coisas, folhas secas, objetos.
Construo então, em minha imaginação, história, estórias, sonhos, e fatalmente, comparações.
Possuo, por exemplo, um desejo incontrolável de saber coisas de meu pai que sempre me questionei se aconteceram como eu as percebi ou se tudo não passa de imaginação. Por vezes, nesse exercício, desconstruo e crio mitos.
Sou mitológico.
Até ai, nada demais: Platão descrevia em seu Capítulo 7 d"A República", sobre "a caverna", que exemplifica a criação de mitos:
- "enqüanto viam sombras, projetadas pelo fogo atrás deles, uma espécie de seres que tinha pés e pescoços paralisados, vivia numa caverna.
Atrás deles, numa parte alta da caverna, o fogo. Entre o fogo e os "seres fixos", separados por uma paliçaada, outros seres, estes andantes, carregavam fantoches, que batidos pela luz do fogo, se projetavam em sombras pela parede da caverna, à frente do olhar fixo dos seres fixos
".
Assim, os que não se moviam, viam apenas sombras projetadas, e uma vez que os que carregavam os fantoches conversavam também entre si, as sombras eram associadas, pelos "pescoços-duros", às imagens que viam.
Ou seja: se o carregador do fantoche do que representava um elefante (sempre o mesmo carregador para o mesmo "elefante"), tivesse voz fina e penetrante, todos os pescoços-duros associariam, coletivamente, a sombra de um elefante a uma voz fina e penetrante.
Agora imaginemos um dos pesoços-duros se liberando, talvez pelas mágicas mãos de uma massagem, e podendo caminhar, sair da caverna, e deparar com a luz... Com a possibilidade de ver um elefante, em nova dimensão dada pela luz e tridimensionalidade, e saber que ele não conversa, apenas emite grunhidos ininteligíveis. E que não tem a forma de um elefante, necessariamente...
Assim, deve se dar a passagem de feto a ser humano, o despertar da consciência. o nascimento.
E então, continuamos nascendo... qüando nos permitimos ver de novo as mesmas situações sob luz diferente:
uma briga de tarde, uma briga de noite.
Um vício maldito, um desejo pelo vício.
Um respeito pelo velho sob nova luz,
uma nova luz sobre coisas velhas.
E assim, fecho minha caixa de guardados
e vou cuidar das coisas velhas e novas a fazer sob essa luz do sol ou dessa lâmpada, ou daquela lua daquele dia...

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