quarta-feira, dezembro 10, 2003

Viagem

Segunda-feira, 13h.
Dou-me conta de que não falo há dias com meu filho newyorker...
Acesso-lhe via celular, e pego-o dormindo ainda...
- "Quê isso, cara, que vida boa! 11 da manhã e você ainda dormindo!" (claro, tem o fuso horário, três horas a mais agora no nosso horário de verão que na capital do mundo...
- "Pô, pai... Tô ensaiando muito, amanhã tenho o primeiro show...."
- "Ô filho da mãe... Porquê você nâo me avisou para eu poder reservar a passagem?!",
- "Ah, tá bom..." (risos)
Colocamos as novidades em dia, e na terça ele faria seu primeiro show como guitarrista do Sin Sin, uma banda de New York, junto com Arnaldo, Cinthia e Charlie.
Arnaldo brasileiro e companheiro de moradia do meu filho, Cinthia mexicana, criada em Miami e Charlie, newyorker descendente de latinos.
A banda tinha ainda um guitarrista muito bom, saido recentemente. Já teve elogios de astros do mundo do heavy metal, e sempre se apresenta nos circuitos 'underground'. O show de terça seria no Continental, casa já antiga no número 23 da Terceira Avenida, onde já se apresentaram muitos artistas hoje famosos, avisa o meu filho.
Desligo o telefone, e me bate uma baita saudade: meu filho ia dar seu primeiro show wm New York, ainda que fosse fora do circuito comercial, e ele estaria ali sozinho com aquele sonho dele se realizando e ninguém para partilhar...
Ligo para a agencia de turismo e acendo o pavio de minha agente: "- Preciso ir para New York hoje!".
"- Deixa comigo. E volta quando?", ela perguntou.
"- Depois de amanhã", decido. Detesto viagens demoradas, a falta de meus espaços, minha coisas, minhas estórias.
Após alguns minutos, a informação: lugar tinha, mas pra voltar em 2 dias, a passagem seria mais de 2500 dolares. Choro uma solução com a agente, que se prontifica a conseguir um redução do prazo mínimo de permanência. E ligo eu mesmo para minhas relaçes na American em São Paulo, que me adianta que estava acabando de ver a concessão ser dada para a minha agencia, no sistema de reservas. Adoro gente eficiente!
Isso, 2h da tarde. às 6h da tarde deveria estar em Confins, para o voo às 8:20h da noite.
Telefonemas, avisos, assinaturas, mala, banho e encomendas. 7;15h da noite estaciono em Confins, faço meu check-in e embarco sem maiores delongas...
...
Chego em New York, sem maiores problemas na alfandega, e pego o onibus para a estação de Howard Beach, a mais próxima do metrô de NYC. Pego o trem em direço a Manhatan, e desço próximo de onde era o WTC. Saio, acendo um cigarro, e vejo o vazio, ainda prédios cobertos com tapumes, telhados destelhados,
Memoriais, faixas, fotos... Um imenso vazio. Já havia estado lá depois do atentado, ainda vi fumaça saindo, 3 meses depois da queda das torres. Agora, o vazio, o descanso... Sem caminhões em infindáveis filas, sem longas linhas de passantes que iam como em romaria em torno dos tapumes que cobria a tragédia inesquecível daquela cidade.
Apesar da sensação de perda como parte da humanidade, bate-me a sensação que eu tivera quando as vi caindo, as torres. Revi minha fita filmada lá no reveillon de 99/2000, fotos de outras viagens, eu no topo da torre sul... Um ponto de vista que milhões tiveram, mas que ninguém mais terá. Como se eu fizesse parte de uma raça que se acaba...
...
Vou depois para Newark, onde as 11h enfrento uma nevasca, a primeira do ano, e um motorista de taxi incompetente, como a maioria o é, por não saber ir em endereço nenhum que você não dê como "parte oeste da rua número tal, esquina com rua tal..." O endereço que eu tinha, era um nome, Kossouth St.
Enfim, como paga pela minha persistência, um delicioso almoço mineiro, feito em casa, por uma amiga.
À noite, 6h da tarde, vou para Manhatan de volta, para o Continental.
Pego um taxi e falo para o motorista o endereço que havia copiado na Internet: 23rd 3rd Avenue, at St. não-sei-o-quê Plaza. Parecia grego, para o motorista iraniano que me atendia... Impaciente. na 3rd Avenue desci do taxi, peguei a direção contrária, peguei outro taxi e disse: "'- Desça a 3rd até o número 23, por favor." O cara ainda me pergunta esquina com o quê, e eu digo que não sei, basta descer, que quando chegar, eu aviso. Falei o nome do bar e ele mesmo encontrou.
Entro no Continental, o som comia alto, dava para ouvir de fora. Por dia, umas 8 bandas se apresentando, 4 músicas cada uma. Olheiros das gravadoras frequentam esse lugares, e o Village, parte sul da ilha de Manhatan, tem uma profusão de casas desse tipo.
Peço uma cerveja, converso com a garçonete e consigo um lugar para deixar minha mala enquanto filmo o lugar, saio pra fumar, etc. A previsão para o Sin Sin, penúltima banda da noite (um aviso na porta fala que as bandas que tocam mais tarde são mais importantes que as que tocam mais cedo. Assim mesmo, na cara dura!) era para tocar por volta de 10:30h, segundo o programa impresso em papel amarelo fosforecente...
Sons muito bons, embora fora de meu gosto específico, com a característica que observo de que todas as bandas pareciam turmas recem encontradas, não havia muita iteração entre os membros. E a maioria, músicos mais velhos. Como bandas, dificilmente eles serão contratados pela gravadoras, mas como musicos independentes eles podem arranjar um bico. Lá pelas 9 da noite, chega o Sin Sin. Vejo meu filho, com sua calça camuflada, cabelão comprido, minha velha jaqueta de nylon e lã, super sério e compenetrado. Eu estava exatamente ao lado da porta de entrada do bar, no fundo, o outro extremo do que é o palco. Eles passam, e reconheço o Arnaldo, que j vira de fotos no site do Sin Sin. Chamo-lhe me apresento, e o cara abre um sorriso largo: "_ Nossa, seu filho vai ter um ataque!" Combino com ele que só apareceria para ele no final, eles me dariam o sinal... Arnaldo me apresenta toda a banda, mais o dono do bar, a garçonete e alguns amigos que foram prestigiar a banda. O namorado da Cynthia, um "manager", me parece, de uma Joan Jett, depois falou para eu investir 5 mil dolares no meu filho, que ele iria longe como guitarrista em New York, ele me garantia. O cara vive no show business...
Bom, chega a vez do Sin Sin, e todos sobem ao palco para ajustar tudo. meu filho dispensa a ajuda do pessoal do bar, que corre com tudo nos intervalos para não perderem tempo. Uma banda saindo e a outra esperando para entrar logo em seguida. O Sin Sin corre contra o tempo, e em menos de 3 minutos, está tudo pronto, guitarra, baixo e bateria conferidos afinação.
Começa o show, e eles parecem tocar há anos. Há uma intimidade entre todos, um sorriso a cada nota mais bonita da voz da Cinthia, outro pelo solo de bateria, ou de guitarra, ou do baixo... Um verdadeiro show, todos com uma presença de palco de artistas tarimbados, brincadeiras durante as músicas que recheiam as notas com humor e harmonia. Mas eu sou suspeito, por isso filmei tudo.
Quando fui à frente, a fim de me mostar para meu filho, preocupado, porquê eles já estavam na quinta música, deveriam acabar logo, e eu ainda não aparecera para dar a minha presença surpresa para aquele cara que eu amo tanto, tanto..., a Cynthia entrou na frente dele, para que ele não me visse... Entendi o recado, e e voltei para o canto que estava, meio encoberto da vista dele.
Depois, na sexta música, ela desceu do palco, e puxou um cara que estava filmando também, amigo deles, para a frente do palco, dançando. Sorriu para mim e fêz um sinal com a mão, dizendo "vai lá!". Mas ai, meu filho começa um solo, de arrasar, na guitarra. Faz uma performance, como se estivesse tocando para Deus, e mexe a cabeça, atiça a Cynthia, chama o Charlie para o combate de guitarra X baixo, faz o Arnaldo correr na bateria como um tropel de centenas de cavalos em corrida livre por campos abertos... O público aplaude e assobia, primeira manifestação daquele tipo, exceto as minhas, que vira naquela noite, da parte do público. O bar estava todo na frente do palco, em pé, dançando e aplaudindo. Meu filho olha feliz para o público, e me vê... Alarga um sorriso e termina a música e vem me abraçar... Beijos, risos, choro, euforia... Dou-lhe um tapa e digo: "_ Vai lá terminar seu serviço!" Ele volta ao palco, e a Cynthia faz a apresentação oficial dele como novo guitarrista da banda Sin Sin...
Depois, desfilei como troféu dele, "Esse é meu pai, veio do Brasil só para meu concerto essa noite!!!!", e todo mundo se admirava...
Depois de algumas conversas com todos, a mulher do Charlie vai nos levar na van do casal em Astoria, onde ele e Arnaldo vivem.
Chego em casa, ou quarto, e tem uma cama reserva, com colchão novo, ainda no plástico, que a dona do apartamento comprou novo para meu filho porquê o dele era um ninho de uns insetos que lhe deram uma reação alérgica, sei lá, esses bichos americanos...
Ele me dá a cama com os bichos ("mas já foi dedetizado, pai...") e vai dormir, sem roupa de cama, somente um cobertor, na outra cama. O quarto tem um aquecimento, como não convêm, forte demais... e sem ajuste. Tem que deixar a janela um pouco aberta para compensar. Só não pode é desligar o aquecimento de madrugada, senão corre-se o risco de morrer congelado, com a janela aberta e o vento veloz e cortante que soprava na noite.
Acordamos no dia seguinte (eu simplesmente desmanchei na cama, meu filho e o amigo ficaram acordados, vendo a fita do show, meu filho encantado com meu ronco na cama dele, todo satisfeito... Acordamos às 8 da manhã, e eu ainda, meio dormindo, respondo a ele que antes de sair para tomar café, eu iria passar em casa para trocar de roupa. Tenho esse defeito de falar coisas dormindo, e coisas sem nexo. Ele ri e insiste: "_ Então você vai passar em casa antes?" e respondo que sim. Ele ri, levanta e liga a TV na MTV. Depois rola os canais e eu pergunto se aquilo era Directv ou Ski. Ele ri de novo e fala que nem um nem outro, tem mais de 170 canais, e é do apartamento, está incluído no aluguel. Então, me dei conta que estava no Estados Unidos, não ia dar para passar em casa e trocar de roupa não... Levantei, fui ao banheiro do quarto dele, que não tem chuveiro, e depois, fui tomar um banho, no banheiro comum do apartamento. Ele me explicou os "do it e os don't do it" das regras da dona da casa, e me apresenta aos seus shampoos e sabonete.
Água fria não tinha não... Ela deve ter congelado no encanamento, e só saia a água quente. Tomo um banho como dá, na água fervente, e saimos para "o melhor café da manhã que você já tomou em NYC". Lembro a ele que já estivera no brunch do Plaza, e ele me afirma que o que nos vamos é melhor. Compramos, na saída de casa, um passe de 7 dolares para o dia inteiro, em todo o sistema de transporte público de NYC, onibus, trens e metrôs. Nova York tem mais de uma dezena de linhas de metrô, uma verdadeira cidade embaixo da cidade. Segundo meu filho, com 13 ratos por habitante. Falamos de uma população de ratos... maior que toda a população brasileira, apenas em New York! Já imaginaram quanto comida, num mundo faminto, se destina a alimentar essas nações animais? E meu filho ainda me diz que no verão, eles andam até dentro dos metrôs, apavorando todo mundo e enfrentando, com raiva, a presença humana. Cruzes. Isso explica porquê eu não vira ninguém dormindo nos bancos do metrô aquecido, naqueles dias de frio e neve lancinantes na nossa pele tropicalizada... Se der bobeira, os ratos comem as pessoas vivas. Já ouvira casos de crianças com dedos roídos por ratos.
Desistimos do onibus, que nunca vem. Uma ralhaçã de meu filho contra Mr. Bloomberg, prefeito atual de NYC, mas pelo visto, uma decepção para os yorkers.
Andando para não congelar, chegamos na lanchonete tão famosa... Uma aparência daqueles vagões de trem antigos, tudo de fórmica. Um café da manhã típico de quem não sabe comer: Scrambled eggs, o meu com presunto, o dele e do Arnaldo com bacon, torradas francesas, syrup e panquecas. E aquela horrível batata amassada e passada na chapa, meio queimada e meio temperada com o caldo de tudo que se passa na chapa. Suco de laranja artificial, água com gelo, e café com leite, mas com gosto de água suja apenas. Coitado deles... Espero que no dia que tomarem o brunch do Plaza se lembrem rindo desses tempos.
Nessa altura, surge-me a lembrança vaga de uma frase de George Bernard Shaw: "A felicidade só pode ser vivida por quem espalha a felicidade, assim como a riqueza só pode ser usufruída por quem contrói a riqueza." Ou algo assim. Meu filho vive feliz, espalha isso, e vive com a pequena mas radiosa riqueza que tem de enfrentar o mundo logo na cidade mais arrasadora de mitos que existe. Nas bancas, os jornais contam que as celebridades de New York quase todas estão envolvidas em escândalos. A cidade que dá tudo, tira a hora que quer.
E ele me diz, à noite, depois de me apresentar aos colegas do estúdio onde trabalha, em meio a milhões de dolares de equipamentos, softwares como o Pro Tools, para Macinstosh, com estação de trabalho em uma sala toda protegida e com acústica, segundo ele, perfeita, para perceber qualquer desvio harmônico numa gravação. Insiste em me dizer que um bom engenheiro de áudio consegue, somente com os outros equipamentos espalhados pela sala, o mesmo efeito do software... Mas o tempo, em NYC, conta demais. Money talks. O software é mais rápido...
Conheço o cantinho onde ele trabalha, a parte mais arrumada do estúdio, em meio a caixas de vávulas de cabeçotes de amplicadores, amplificadores estragados, ferramentas, uma discreta bancada, pedaços de braços de guitarras, suportes, peças... Ali ele conserta guitarras (orgulhosamente me mostra as faturas das guitarras consertadas por ele, umas 20 já...). Fala com paixão da Gibson que está querendo comprar, de 1973, com captadores maiores, que é do tcheco chefe dele, Maros. US$1,000.00, mas ele não quer gastar a grana de reserva que tem para os tempos ruins. Reclama que tem trabalhado poucas horas, e que naquela noite, que ele pedira licença para o chefe, para ficar comigo, e o cara chorou com ele ao telefone, falando que voltara da Europa há pouco, e estava muito gripado, será que ele "não podia dar uma força no estúdio naquele dia, para ele poder descansar um pouco?" O cara deve ter achado aquela desculpa de "pai que veio do Brasil para o meu concerto na note passada" a desculpa mais escrôta que um babaca pode dar para faltar ao serviço... Acho que ele se surpreendeu de ver-me, e saber a quem meu filho puxara tanta beleza... e metidêz, claro.
Insisti, quando soube, mais cedo, com meu filho, que não queria atrapalhar, e que às 6 da noite pretendia pegar o metrô para o aeroporto Kennedy, para meu voo às 10:20h. Fomos para o estúdio de mala e cuia, após um dia de caminhada por lojas de roupas de guerra, usadas e novas, lojas de novidades eletrônicas, uma passada pelo Intrepid para fotografar o Concorde que está ao lado do porta aviões, do destroyer e do submarino, todos museus, a 14 dolares por cabeça para visitar tudo... Meu filho conversou para que nos deixassem só fotografar o Concorde, sem pagar. Entramos, e um carro com dois seguranças limitava o acesso perto do avião, sobre uma balsa ancorada. Enquanto eu "apanhava" para ajustar a minha máquina, meu filho conversava com os guardas, um verdadeiro newyorker no inglês, mas com uma beleza, um gestual, uma vida, uma presença, que não se vê todos os dias por ai não. Ele anda com os flyers do show de 18 de Dezembro no bolso, e dá para todo mundo com quem conversa. Se for todo mundo que falou que vai, vai dar casa cheia. E esse é pago. Antes disso, ele me levou, quase que puxando a mão, a uma loja da Home Depot perto da casa dele. Um monstro, uma loja só de ferramentas e materiais de construção, toda moderna, onde os check-outs são automáticos, você mesmo passa sua compra, embala, paga com cartão ou dinheiro, recebe o troco, tudo sem interferência de funcionários da loja. O sistema é baseado em etiquetas de radio: o que você passa pelo leitor delas na bancada. Mesmo assim, vieram uma três fresas para minha Dreamel sem registrar, e o sorriso maroto de meu filho: "_ Eles acham que são espertos...". Passo-lhe uma descompostura, e ele inventa um argumento qualquer sobre a exploração da loja, e eu penso cá que essas máquinas tiram o emprego de pessoas, que não deixariam que isso acontecesse, a menos que quisessem lesar o patrão. Deixo a questão de lado, que não vinha ao caso nem era hora. Já bastava a nossa briga durante o café da manhã, quando me levantei e fui para fora da lanchonete depois de dizer a ele que eu iria exercer meus direitos sobre minhas coisas, numa questão sobre uns aparelhos meus que emprestei a ele e que agora estavam guardados com a mãe dele. "_ O que é combinado, não é caro. Você sabe que aquelas coisas são minhas e que as deixei com você, que as havia pedido emprestado, emprestadas, apenas. Agora. eu quero essas coisas, e vou exercer meu direito sobre elas!" Levantei-me e sai para fumar um cigarro. Mais tarde voltamos a falar sobre o assunto, ele quem puxou, e me disse que tudo bem... Afinal, deixei para trás tudo da casa, quando separei, home theather, TV, vídeo, DVD, aparelhos de som... Só queria o que era meu, dito e guardado como tal, restos de um negócio que era deles mas ficou no meu prejuízo, uma loja de CDs.
Depois de uma pizza no estúdio, minha segunda refeição do dia, depois de uma diarréia danada o dia inteiro (ainda bem que tem Starbucks e McDonalds em toda esquina, com banheiros limpos, assim, assim...), resolvo ir de taxi até JFK, e em 5 minutos, nos despedíamos, ele com um olhar feliz e me dizendo que fora o melhor presente de Natal que ele poderia ganhar, embora ainda faltasse tanto para o Natal.
Gingle bells, gingle bells...
No aeroporto, as paranóias: mães com bebês tendo que tirar sapatos para passar no raio X (nem todos têm que fazer isso, sei lá que critério que usam...) e ninguém ajuda a desmontar um carrinho para passar no raio X... Ajudei a moça que estava à minha frente na fila, e acabei caindo também na "malha fina". E de quebra, me tomaram um alicate de unha que ia na minha necessaire, já tinha ido comigo. Pedi à "oficial"um termo ou recibo da apreensão, ela simplesmente disse que não daria. Anotei ostensivamente o nome e o número dela e falei bem sério: "_ Take care of it, you'll heard about me soon..." apenas para fazer um pouco do mesmo terrorismo deles com a gente... Mas acho que não a intimidei: ou ela ou o colega dela, afanaram meu isqueiro Zippo, só me dei conta disso no Brasil.
Na volta, um voo onde dormi tanto que perdi o jantar e o café da manhã, sendo que o último ainda deu para chamar a comissária e pedir um fora de hora, que estava morto de fome... Minha vizinha de assento, uma simpática californiana indo pela primeira vez ao Brasil, para passar 10 dias trabalhando em São Paulo, falou que me chamou para o jantar, mas eu não acordei. Ela tivera que passar sobre mim duas vezes durante a noite, para ir ao banheiro, e eu acordei de madrugada exatamente uma vez que ela fazia isso. O sono era tanto que me levantei nessa hora para ela sair, mas quando ela voltou eu já havia caído no sono de novo, frustrado por ter perdido o jantar e com fome... Eu havia oferecido para trocar de lugar com ela e ir na janela, mas ela dispensou. Mas se apressou a me dizer que eu não a incomodaria, desde que eu não me incomodasse dela passar sobre mim...
Assim, chegamos em SP, calor, enfim! Duas horas de espera, e o avião para casa, lar doce lar.
Chego, pego meus brinquedos, minhas lembrançaas, as imagens de alegria de meu filho, minha realização por poder mostrar a ele quanto ele é importante para mim, e ver o quanto sou importante para ele...
Lembro Bernard Shaw de novo, e somos dois caras que partilham felicidades e usufruem do que construimos. Um mundo nosso, e possível.

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