quinta-feira, novembro 06, 2003

Qu� que � isso, mon dieu?!

Subject: Fw: N�o deixem de ler.


O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Weber Figueiredo, deu uma �ltima aula para seus ex-alunos.
Diante de uma plat�ia de formandos, acompanhados de seus pais, o professor paraninfo da turma discursou sobre o Brasil.
A aula dada no dia 13 de agosto de 2002, no audit�rio da UERJ, est� sendo repassada pela Internet para engenheiros e estudantes por causa de sua qualidade. Leia abaixo o que disse o Prof. Weber Figueiredo.

"Ilustr�ssimos colegas da Mesa, senhor Presidente, meus queridos alunos, senhoras e senhores. Para mim � um privil�gio ter sido escolhido paraninfo desta turma.
Esta � como se f�ra a �ltima aula do curso, o �ltimo encontro, que j� deixa saudades. Um momento festivo, mas tamb�m de reflex�o.
Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de direito, talvez eu falasse da import�ncia do advogado que defende a justi�a e n�o apenas o
r�u.
Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de medicina, talvez eu falasse da import�ncia do m�dico que coloca o amor ao pr�ximo acima dos
seus lucros. Mas, como sou paraninfo de uma turma de engenheiros, vou falar da import�ncia do engenheiro para o desenvolvimento do Brasil.
Para come�ar, vamos falar de bananas e do doce de banana, que eu vou chamar de bananada especial, inventada (ou projetada) pela nossa
vovozinha l� em casa, depois que v�rias receitas prontas n�o deram certo.
� isso mesmo. Para entendermos a import�ncia do engenheiro vamos falar de bananas, bananadas e da vov�.
A banana � um recurso natural, que n�o sofreu nenhuma transforma��o.
A bananada � = a banana + outros ingredientes + a energia t�rmica fornecida pelo fog�o + o trabalho da vov� e + o conhecimento (ou
tecnologia) da vov�.
A bananada � um produto pronto, que eu vou chamar de riqueza. E a vov�?
Bem a vov� � a dona do conhecimento, uma esp�cie de "engenheira culin�ria".
Agora, vamos supor que a banana e a bananada sejam vendidas. Um quilo de banana custa um real. J� um quilo da bananada custa cinco reais. Por que essa diferen�a de pre�os ? Porque quando n�s colhemos um cacho de bananas na bananeira, criamos apenas um emprego: o de colhedor de bananas.
Agora, quando a vov� (ou a ind�stria) faz a bananada, ela cria empregos na ind�stria do a��car, da cana-de-a��car, do g�s de cozinha, na ind�stria
de fog�es, de panelas, de colheres e at� na de embalagens, porque tudo isto � necess�rio para se fabricar e vender a bananada. Resumindo, 1 quilo de bananada � mais caro do que 1 quilo de banana porque a bananada � igual banana mais tecnologia agregada, e a sua fabrica��o criaram mais
empregos do que simplesmente colher o cacho de bananas da bananeira.
Agora vamos falar de outro exemplo que acontece no dia-a-dia no com�rcio mundial de mercadorias. Em m�dia: 1 quilo de soja custa dez centavos de d�lar, 1 quilo de autom�vel custa dez d�lares, isto �, 100 vezes mais; 1 quilo de aparelho eletr�nico custa 100 d�lares; 1 quilo de avi�o custa mil d�lares (equivalente a dez mil quilos de soja) e 1 quilo de sat�lite custa cinq�enta mil d�lares. Vejam, quanto mais tecnologia agregada tem um produto, maior � o seu pre�o, mais empregos foram gerados na sua fabrica��o.
Os pa�ses ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquisa Cient�fica e Tecnol�gica. Por exemplo: eles nos vendem uma placa de computador que pesa 100 gramas por 250 d�lares. Para pagarmos esta plaqueta eletr�nica, o Brasil precisa exportar 20 toneladas de min�rio de ferro.
A fabrica��o de placas de computador criou milhares de bons empregos l� no estrangeiro, enquanto que a extra��o do min�rio de ferro, cria
pouqu�ssimos e p�ssimos empregos aqui no Brasil.
O Jap�o � pobre em recursos naturais, mas � um pa�s rico. O Brasil �rico em energia e recursos naturais, mas � um pa�s pobre. Os pa�ses ricos
s�o ricos materialmente porque eles produzem riquezas. Riqueza vem de rico, pobreza vem de pobre.
Pa�s pobre � aquele que n�o consegue produzir riquezas para o seu povo.
Se conseguisse, n�o seria pobre, seria pa�s rico.
Gostaria de deixar bem claro tr�s coisas:
1 - Quando me refiro � palavra riqueza, n�o estou me referindo a j�ias nem a sup�rfluos; estou me referindo �queles bens necess�rios para que o
ser humano viva com um m�nimo de dignidade e conforto;
2 - n�o estou defendendo o consumismo materialista como uma forma de vida, muito pelo contr�rio; e...
3 - acho abomin�vel aqueles que colocam os valores das riquezas materiais acima dos valores da riqueza interior do ser humano. Existem na��es que s�o ricas, mas que agem de forma extremamente pobre e desumana em rela��o a outros povos.
Creio que agora posso falar do ponto principal. Para que o nosso Brasil se torne um pa�s rico, com o seu povo vivendo com dignidade, temos que
produzir mais riquezas. Para tal, precisamos de conhecimento, de tecnologia, j� que temos abund�ncia de recursos naturais e energia. E quem
desenvolve tecnologias s�o os cientistas e os engenheiros, como estes jovens que est�o se formando hoje.
Infelizmente, o Brasil � muito dependente da tecnologia externa.
Quando fabricamos bens com alta tecnologia, fazemos apenas a parte final da produ��o. Por exemplo: o Brasil produz 5 milh�es de televisores por
ano e nenhum brasileiro projeta televisor. O miolo da TV, do telefone celular e de todos os aparelhos eletr�nicos, s�o todos importados. Somos meros
montadores de kits eletr�nicos.
Casos semelhantes tamb�m acontecem na ind�stria mec�nica, de rem�dios e (incr�vel !) at� na de alimentos.
O Brasil entra com a m�o-de-obra barata e os recursos naturais. Os projetos, a tecnologia, o chamado "pulo do gato", ficam no estrangeiro, com
os verdadeiros donos do neg�cio. Resta ao Brasil lidar com as chamadas "caixas pretas". � importante compreendermos que os donos dos projetos
tecnol�gicos s�o os donos das decis�es econ�micas, s�o os donos do dinheiro, s�o os donos das riquezas do mundo. Assim como as �guas dos rios correm para o mar, as riquezas do mundo correm em dire��o aos pa�ses detentores das tecnologias avan�adas.
A depend�ncia cient�fica e tecnol�gica acarretou para n�s brasileiros a depend�ncia econ�mica, pol�tica e cultural. N�o podemos admitir a
continua��o da situa��o esdr�xula, onde 70% do PIB brasileiro � controlado por n�o residentes.
Ningu�m pode progredir entregando o seu tal�o de cheques e a chave de sua casa para o vizinho fazer o que bem entender.
Eu tenho a convic��o que desenvolvimento cient�fico e tecnol�gico aqui no Brasil garantir� aos brasileiros a soberania das decis�es econ�micas,
pol�ticas e culturais. Garantir� trocas mais justas no com�rcio exterior.
Garantir� a cria��o de mais e melhores empregos. E, se toda a produ��o e riquezas forem bem distribu�das, teremos a erradica��o dos graves
problemas sociais.
O Curso de Engenharia da UERJ, com todas as suas poss�veis defici�ncias, visa a formar engenheiros capazes de desenvolver tecnologias.
� o chamado "engenheiro de concep��o" ou "engenheiro de projetos".
Infelizmente, o mercado desnacionalizado nem sempre aproveita todo este potencial cient�fico dos nossos engenheiros. N�s, professores, n�o
podemos nos curvar �s deforma��es do mercado.
Temos que continuar formando engenheiros com conhecimentos iguais aos melhores do mundo.
Eu posso garantir a todos os presentes, principalmente a os pais, que qualquer um destes formandos � t�o ou mais inteligente do que qualquer
engenheiro americano, japon�s ou alem�o. Os meus trinta anos de magist�rio, lecionando desde o antigo gin�sio at� a universidade, me d�o autoridade para afirmar que o brasileiro n�o � inferior a ningu�m, pelo contr�rio, dizem at� que somos muito mais criativos do que os habitantes do
chamado primeiro mundo.
O que me revolta, como professor cidad�o, � ver que as decis�es pol�ticas tomadas por pessoas despreparadas ou corruptas s�o respons�veis
pela queima e destrui��o de intelig�ncias brasileiras que poderiam, com o conhecimento apropriado, transformar o nosso Brasil num pa�s florescente,
pr�spero e socialmente justo.
Acredito que o mundo ideal seja aquele totalmente globalizado, mas uma globaliza��o que inclua a democratiza��o das decis�es e a distribui��o
justa do trabalho e das riquezas. Infelizmente, isto ainda est� longe de acontecer, at� por limita��es f�sicas da pr�pria natureza. Assim, quem pensa que a solu��o para os nossos problemas vir� l� de fora, est� muito enganado.
O dia que um presidente da Rep�blica, ao inv�s de ficar passeando como um "g�ndi" pelos pal�cios do primeiro mundo, resolver liderar um aut�ntico projeto de desenvolvimento nacional, certamente o Brasil vai precisar, em todas as �reas, de pessoas bem preparadas. S� assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar decis�es que beneficiem verdadeiramente a sociedade brasileira.
Ser� a constru��o de um Brasil realmente moderno, mais justo, inserido de forma soberana na economia mundial e n�o como um r�les fornecedor de recursos naturais e m�o-de-obra aviltada.
Quando isto ocorrer, e eu espero que seja em breve, o nosso Pa�s poder� aproveitar de forma muito mais eficaz a intelig�ncia e o preparo
intelectual dos brasileiros e, em particular, de todos voc�s, meus queridos alunos, porque voc�s j� foram testados e aprovados.
Finalmente, gostaria de parabenizar a todos os pais pela contribui��o positiva que deram � nossa sociedade possibilitando a forma��o dos seus filhos no Curso de Engenharia da UERJ. A alegria dos senhores, tamb�m � a nossa alegria.

Muito Obrigado."

Fonte: Revista Consultor Jur�dico, 29 de agosto de 2002
p.s.: Ele falava de FHC, embora Lula continue passeando... Mas ser� que ele est� pensando?

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